"Por isso Hegel e os seus discípulos têm de depositar as suas esperanças numa dialéctica do iluminismo onde a razão se valida enquanto equivalente do poder unificador da religião."
(Nietzsche)
De Aristóteles a Hegel, a nossa 'diferença específica' (a de sermos racionais) vai tornar-se num processo de evicção do divino, de realização do absurdo. Revelamo-nos a nós próprios como "medida de todas as coisas", com esse instrumento prometeico que afinal os deuses nos tinham usurpado, fazendo-nos crer que o herói o tinha roubado.
Por contraste com a inscrição de Goya numa das suas gravuras, a vigília da razão também cria os seus monstros. Não o demonstrou o ano de 1793, com a nova deusa devorando os seus próprios filhos? Não foi o plano de Pol Pot estritamente lógico e, ao mesmo tempo, demencial?
A "medida de todas as coisas" pode ser, na verdade, desmesura.
Se a razão se quis tornar no moderno "poder unificador" não foi capaz de, simultaneamente, nos dar os novos valores.
A explicação para esse fracasso talvez esteja nesta outra ideia de Nietzsche:
"Daí que toda a formação cultural moderna seja essencialmente interior, um manual de formação interior para bárbaros exteriores..."
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