domingo, 5 de outubro de 2014

A FORÇA DO DESAFECTO

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" A vossa preferência política determina os argumentos que acham convincentes (heurística do afecto) "

(Daniel Kahneman)

A razão deve ser porque já estamos convencidos antes de ouvir o argumento. Alain dizia que qualquer um vê de muito longe o argumento que o obrigaria a uma mudança de opinião. Esquivamos, pois, o escolho, contornando-o. Daí que a moderna expressão de que qualquer coisa é 'incontornável' significa que ela não faz parte das opiniões 'perigosas'.

Compreende-se que não possamos expor o núcleo da nossa 'segurança' e da nossa identidade social à ponta de um argumento mais ou menos brilhante e mais ou menos inatacável. Com a idade, essa defesa parece-se, cada vez mais, com uma retirada do mundo.

Pelo contrário, a juventude pode dar-se ao luxo de parecer instável e incoerente, sem por isso estar menos segura de si mesmo e da sua esplêndida saúde. Infelizmente, qualquer contacto com o poder é securizante, isto é, dominado pela estrutura e pela organização.

A estabilidade e a previsibilidade do comportamento colectivo assentam nesta força conservadora dos afectos. É essa força mesma que está em causa quando o novo não nos surge sob a forma de ideias e de modelos de sociedade alternativos mas da simples utilização e 'incorporação' dos novos mídia.

 

 

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