"O método usado para obter a maioria pode deduzir-se da carta de um proprietário local ao candidato do PRP em VN de Foz Côa (distrito da Guarda): escrevera ao 'nosso caseiro das Seixas' e 'encarreguei-o de me arranjar ali alguma votação', o que o homem prometeu, em troca de ser nomeado regedor da freguesia e de lhe darem dinheiro para fazer um fontanário. Não por acaso, a participação eleitoral foi mais alta na província, o que traduz o poder do Governo."
("História de Portugal" de Rui Ramos & al.)
Não se inventa a 'participação', nem os cidadãos nascem da coxa de Júpiter só porque as condições são mais favoráveis. No princípio do século XX, Afonso Costa era o homem necessário para puxar a política pelos cabelos. Mas que política, com efeito, era essa, com partidos, mas sem cidadãos?
Um século depois, não foi o golpe mililtar, logo convertido pelo novo poder em revolução popular, que mudou as coisas. O que interiorizamos e mudou as mentalidades, foi a defesa da democracia. O que parecia uma revolução (mas era a ideia romântica dela) merecia ser salvo, como foi, mesmo com a nova tutela partidária.
O fontanário custou muito menos aos portugueses do que os estádios do Mundial, e era um melhoramento de facto. A 'caça ao voto' do 'caciquismo local' era um 'produto da terra' como o vinho regional, e entorpecente como ele. Este é o mundo de Eça que para sempre, com a sua morífera ironia, converteu estas relações 'naturais' em atraso e atavismo.
Era bem preciso hoje que alguém, por assim dizer, continuasse (adaptando à nova realidade) a obra deste grande escritor, para nos fazer sair da 'choldra' em que o seu exótico monóculo nos deixou.
Jacinto já não tem país a que voltar.
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