Irvin Yalom
No apaixonante romance de Irvin Yalom, Nietzsche está muito doente, mas não quer ser tratado. Ele precisa do "stress" e duma vida difícil para escrever e, sobretudo, para alimentar um desmedido orgulho, que se tornou um "órgão da doença".
Ao discutir o caso com o seu cunhado Max, Joseph Breuer compara o problema com a atitude duma criança, a que é preciso "dar a volta":
"(...) Espera aí, Max, matá-lo-ias numa semana! Não, o que farias seria mudar a atitude dele em relação a ti e ao tratamento. É a mesma coisa quando se trata de crianças. Alguma vez uma criança deseja ser tratada?"
("Quando Nietzsche chorou" de Irvin Yalom)
Breuer parece prestes a aderir à teoria do inconsciente do seu talentoso discípulo, o doutor Freud, pois há um Nietzsche que pede ajuda, quando a personalidade orgulhosa sai de cena.
Se Platão dispusesse do Inconsciente (mas não há qualquer coisa disso na reminiscência das Ideias?), como se poderia interpretar a licença que concede àqueles que têm por missão governar, para mentir, em nome do bem comum?
Poderíamos dizer que, realmente, o governante falaria verdade ao inconsciente popular, pois conheceria as necessidades do povo melhor do que ele próprio.
A divisão do sujeito, como se vê, autoriza sempre o autoritarismo da Razão. Todo o governante adopta a posição de Breuer, face a um Nietzsche dividido. A posição do médico que sabe melhor do que nós o que nos convém.
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