"Charcot tinha receitado uma visita a uma prostituta a um paciente seu, um belga, professor de Direito, de 32 anos. Aos sete anos de idade, o belga vira uma estátua de Hércules 'que lhe tinha dado uma preferência por homens e uma espécie de horror às mulheres'".
(William Carter, "As paixões de Proust")
Aqui aplica-se, sem dúvida, um aforismo do próprio Charcot: "Em última análise, só vemos o que estamos preparados para ver, aquilo que fomos ensinados a ver. Eliminamos e ignoramos tudo o que não seja parte dos nossos preconceitos."
A estátua que 'determinou' as preferências sexuais do paciente belga pode ter 'condensado' uma tendência natural, ou uma predisposição latente. Mas pode também ter 'decidido', no caso de ambivalência, a questão do género, a 'persona' sexual.
Charcot acreditava que essa 'decisão' era reversível, que a história pessoal podia ser ignorada e como que 'forçada' a uma restauração, pelo menos, da ambiguidade. O que torna compreensível esta crença, mesmo depois do que sabemos hoje, é que o mencionado 'horror' pelas mulheres não indicia uma solução 'feliz' da crise causada pela imagem de Hércules.
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