" Mais sabe o sandeu em suas cousas próprias, que o sesudo nas alheias."
(Dom Francisco Manuel de Melo)
"Os sesudos fazem as leis e moldam a opinião pública que poderia aproximá-las das realidades quotidianas. A ciência do sandeu não interessando, por ser demasiado particular, o 'conhecimento das coisas alheias', por muito defeituoso que seja, governa o mundo e deveria ser tão imperioso e tão envolto em mistério, para o sandeu, como as leis da natureza.
Mas não é, porque a disponibilidade da informação acabou com a distinção entre sandeus e sesudos. A invenção da imprensa já tinha retirado o monopólio do saber aos sacerdotes e aos monges letrados. No "Nome da Rosa" (Eco), o envenenamento do livro raro pode ser lido como o último recurso daquele monopólio.
Conceitos como o de luta de classes puseram fim, depois, a esse estado natural que permitia a inocência na desigualdade do 'conhecimento', rapidamente convertido em ideologia.
Podia dizer-se que a informação omnipresente na rede e nos computadores ou 'smartphones' é a enciclopédia ideal, pois embora não dispense o critério e o motor de pesquisa é instantânea e, realmente, "não ocupa lugar". Envolve-nos como uma floresta impenetrável, anárquica e sem sentido (mas aberta a todos os sentidos). Se mais não fosse, essa envolvência transforma toda a aquisição de saber numa questão de fé. Temos de valorizar os nossos limites e a nossa efemeridade, frente ao cúmulo dos cúmulos (a nuvem), o cumúlo paranoico da informação.
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