Edgar Morin e Jean-Louis Le Moigne |
"O mal francês, sabe-se qual é: inventam-se sempre novos estratos, mas é-se incapaz de suprimir outros. A minha pergunta é a seguinte: por causa da descentralização, não há um degrau a mais e, se ele se encontra ao nível local, o senhor suprimiria essa colectividade que dirige?"
(Jean-Louis Le Moigne, num colóquio)
Já se chamou o 'mal francês' a uma doença venérea. Aqui, curiosamente, a expressão é aplicada a uma doença administrativa. A burocracia, tendo em si o seu próprio fim, não é reformável a partir de dentro (que é o que acontece, geralmente, nos casos de extrema centralização). Assim, ao contrário da serpente, que muda efectivamente de pele, a burocracia conserva a vellha pele a nova, sem se despojar de nada.
Isto é diferente de gerir a mudança com os menores custos sociais, como nos melhores exemplos se fazia entre nós. Uma reforma antecipada que abre um novo posto de trabalho, por exemplo.
Custa a crer que, nos dias de hoje, se continue a explicar esta idiossincrasia francesa como uma herança do Estado napoleónico. Se é verdade, o grande Corso foi melhor profeta ainda do que general. Viu o que Balzac viu na vida dos camponeses, que são a alma do povo, logo que se extinguem as luzes dos 'boulevards'.
A ideia napoleónica é, no entanto, cómoda. Tal como o grande cartaz na Praça Tien-Amen e a própria doutrina oficial chinesa. São sinais-túmulo que representam o vazio. Mao morto e embalsamado faz esquecer o verdadeiro.
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