Joseph Conrad |
"Sei apenas que quem estabelece um laço está perdido. O germe da corrupção entrou na sua alma."
(Joseph Conrad, citado por Greene e Steiner)
Os heróis da pureza são solitários. Aliás a pureza não é alcancável. Permanece um ideal. Mas a própria palavra interesse, que usualmente se contrapõe ao desinteresse da 'pureza', nos adverte para o que está em questão.
A origem da palavra vem do latim 'inter-essere' que quer dizer 'existir entre', estar com outros naquele intrincado de laços que, segundo Conrad, nos perde, afastando-nos do mundo dos 'puros' e da 'salvação.
Este exemplo é apenas um dos inumeráveis que revelam a natureza dualística da moral. Não há bem que não pressuponha um mal. Um deles está sempre na sombra, a um passo de erguer a sua cabeça de anjo ou de demónio.
É nesse sentido que, para mim, é verdadeira a palavra do evangelho, quando se diz que pecamos todos os dias, apesar dos nossos esforços.
Se perdêssemos toda a noção de pureza, a corrupção teria livre curso, e haveria um mundo de 'pernas para o ar'. Mas o que é natural é que não faltem ocasiões para nos deixarmos corromper por causa de um dos nossos 'laços'. A 'salvação' é quase um milagre, porque não há quem, no segredo do seu coração, esteja livre de 'pecado'.
Assim, a religião vencida nunca foi ultrapassada e está por detrás de todos os nossos juízos morais, mesmo quando não empregamos os termos consagrados de bem e de mal, perdição e salvação. Sem isso, em nome de quê combateríamos a corrupção?
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