Truman Capote foi acusado por alguns dos seus amigos de explorar psicologicamente Perry Smith, um dos homicidas no massacre dos Clutter (Kansas 1959).
Ao confortar e ajudar os culpados, conseguindo mesmo o adiamento da execução, na verdade, pesquisava, recolhia material para o livro da sua vida, "In cold blood".
Se fosse essa a motivação, o filme de Bennett Miller revela-nos o preço real que o escritor teve de pagar pela sua história. Ao identificar-se com Perry, a ponto de considerar que ambos haviam nascido sob um mesmo tecto ( o da orfandade?), tendo um saído pela porta da frente e o outro pela das traseiras, conhece uma terrível depressão e afunda-se no álcool, não conseguindo acabar mais nenhum livro.
O ponto é que mesmo essa motivação ia ao encontro da necessidade de reconhecimento do condenado.
O interesse, consciente ou não ( terá existido um santo que não pensasse na sua salvação?) pode macular um gesto, mas não é a última palavra. O que acontece a seguir escapa aos actores do drama. "O homem põe e Deus dispõe", diz o ditado.
Alguém pode ser julgado por um motivo, que pesa tão pouco no resultado?
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