sexta-feira, 8 de novembro de 2013

NÃO HÁ RELAÇÃO

Hilaire Belloc

"Não é mais suposto que um homem viva da escrita do que é suposto que viva da conversação, ou do modo como se veste, ou pelo que passeia e vê do mundo. Porque não existe nenhuma relação entre a função das letras e o efeito económico das letras, não existe relação entre a boa ou má qualidade da obra, ou a sua magnitude, e as somas pagas pela mesma. Não seria natural que tal relação existisse, e, de facto, não há nenhuma relação."
(Hilaire Belloc, citado por Simon Leys in "The hall of uselessness")

Ou existe tal relação mas não sabemos qual é, nem podemos medí-la. Como o 'cachet' de uma estrela do futebol tem certamente alguma relação com a sua forma de jogar, mas não podemos dizer até que ponto isso é um puro efeito do mercado.

Por exemplo, qual é a relação de uma greve dos serviços do Estado, aqui e agora, e a mudança de política que os organizadores esperam? Só sabemos que os trabalhadores são chamados a exprimir a sua indignação, com o seu sacrifício e o de muitos outros, sem tocar nos 'malfeitores' que vivem do mesmo Estado e não dos lucros de uma empresa. Não há relação. Há 'prova de vida' para as organizações, e um maior ou menor impacto mediático que também não será de molde a incomodar os nossos 'tutores'. Funciona o presente bloqueio da 'relação de forças'.

Algumas obras de arte atingem valores obscenos no mercado, mesmo sem existir, nem poder existir uma relação entre a sua qualidade e o que alguns privilegiados pagam por elas. No futebol, verifica-se uma espantosa benevolência com o 'cachet' das estrelas, o qual nada pode ter a ver com o mérito ou a 'prestação' dos 'cracks'.

O melhor das greves como esta não são os resultados práticos, que só podem ter saída por outro lado. É a demonstração de que há vida para além dos 'ajustamentos', como diria Jorge Sampaio. Mas não há qualquer relação entre o meio e os fins anunciados. Ou não é a que alguns esperam.

 

 


 

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