domingo, 10 de novembro de 2013

DESCONECTADOS


"Disconnect" (2012, Henri-Alex Rubin)

Três histórias se entrelaçam nesta eficaz demonstração de que os elos básicos da sociedade estão em crise profunda, coisa sabida desde há muito. Uma solidão desesperada caracteriza as personagens e o seu ambiente.

Um estudante quase autista que se enamora por Jessica, pseudónimo de dois colegas que se riem à sua custa e, por fim, passam a sua 'declaração de amor' para os telemóveis de toda a escola, levando-o ao suicídio, um adolescente que vende na internet cenas de masturbação em directo e que é utilizado pelo seu 'protector' para aliciar menores para o mesmo efeito, um casal que perdeu o filho e deixa de falar, entregando-se ambos às escapatórias da rede, ela 'consolando-se' com uma alma compreensiva e ele arriscando o que tem e o que não tem no jogo 'on line'.

As redes sociais, o fim da privacidade com a partilha da intimidade com relações virtuais, a instantânea disseminação de fotos e de mensagens assumem, cada vez mais, para a juventude, o papel do antigo diário confessional. O interior do 'eu' é varrido pelos projectores de um 'campo de desconcentração'. Nunca se foi tão prisioneiro numa liberdade sem grades. Do esplendor do individualismo caímos, sem solução de continuidade, no gregário mais absoluto.

Mas parece claro que a dissolução da família vai de par com a crise da consciência social (a da solidariedade e a da percepção da nossa natureza) e que esse fenómeno tem raizes muito mais antigas do que a revolução tecnológica.

O que acelerou a degeneração foi o aparecimento, no nosso tempo, de uma outra via, de uma alternativa à 'decadência do Ocidente'. Uma alternativa com o brilho das técnicas de ponta e da ciência mais avançada, que é, de facto, um não-humanismo, e, no limite, não tem ponto de vista ( o ponto de vista está em todo o lado).

As vítimas de 'Desconectados' fazem lembrar a imagem de borboletas queimadas contra a lâmpada.

 

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