quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

OS HUNOS

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"O mundo já se teria extinguido sem dúvida no tempo das grandes invasões, se cada um tivesse querido defender-se até à última gota do seu sangue."
(in "O Homem Sem Qualidades", de Robert Musil)

Sabemos, pela experiência histórica, que o indivíduo, ao entrar na dinâmica de um colectivo, deixa de pensar por ele mesmo (embora conserve, quase sempre, a ilusão de que essa circunstância não perturba o seu 'livre arbítrio'). O facto é que nenhuma organização gosta da  independência.

É talvez demasiado simplista a ideia de que o indivíduo se perde completamente no seio da massa em movimento e que a organização possa ser descrita como uma simples maquinaria. De resto, sempre se disse que a 'união faz a força', mas ninguém disse que, como instrumento, essa união possa encontrar por si o seu objecto e o seu objectivo.

O facto dos Hunos, por exemplo, dentro da sua massa bélica, terem encontrado tão poucos casos de resistência do tipo 'até à última gota de sangue' deve-se, naturalmente, ao instinto de sobrevivência dos povos atacados e, talvez, à compreensão do significado da força (não-humana, entenda-se). Força a que Simone Weil atribuiu o verdadeiro protagonismo na 'Ilíada'. Por isso, crismou a obra-prima de Homero de 'poema da força'.

Mas, os seguidores de Hitler, os hunos da nossa era, não encontraram da parte das suas principais vítimas, os judeus, qualquer tipo de resistência e muito menos esse heroísmo do 'até à última gota de sangue'. Como se, nesse momento, se cumprisse uma predestinação histórica. Como se fosse cobrada uma dívida antiquíssima que criava aquela espécie de letargia.

O instinto de sobrevivência não tinha qualquer hipótese. E também não se pode dizer que os judeus compreendessem a força que os atacava. Outro castigo de Jeová, mais do que merecido?

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