sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

OS ALIMENTOS TERRESTRES





"Não desejes, Nataniel, encontrar Deus que não seja em todo o lado. Cada criatura indica Deus, nenhuma o revela. Desde o momento em que o nosso olhar nela se detiver, cada criatura desvia-nos de Deus." 

É assim que Gide inicia as "Nourritures Terrestres", obra que na altura causou um pequeno escândalo, tendo o autor se sentido na necessidade de explicar ao que vinha e que razões explicavam esse panteísmo dos sentidos. 

O certo é que essa obra contribuiu para a aversão de certos moralistas (mas não só) pela temática gideana. 

O programa das 'Nourritures' vai, sem dúvida, mais longe do que o optimismo de um Pangloss que encontra 'justificação' para tudo no 'melhor dos mundos possível'. E pode dizer-se que, algumas vezes, a sorte protege 'os que se deixam ir', mantendo-os no mundo da 'consciência reduzida' para além de toda a probalidade. 

Gide, ao que parece, saía de uma doença séria e só quis cantar um hino à vida. Ora, como diz o Eclesiastes, há um tempo para tudo. E quando nos entregamos ao júbilo e à dança comemorativa, não é justo que nos lembrem males passados ou presentes um pouco por todo o mundo (para não falar dos males futuros), segundo a agenda da 'Comunicação'. 

De resto, André Gide, não se ficou por essa obra de juventude. Se foi sincero e ingénuo, como convinha a essa idade, a maturidade, em vez de a enjeitar (chegou a escrever uma continuação, em "Nouvelles Nourritures Terrestres"), tomou-a como ponto de partida para outras criações que, infelizmente,  lhe pareceram sempre incompreendidas. 



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