Há uns anos, Agustina disse, numa entrevista a Clara Ferreira Alves, que era impensável que dalí a dois mil anos o ser humano ainda se preocupasse com o sexo.
A verdade é que em algumas espécies o acasalamento ocorre uma única vez, e o macho pode aí perder a vida, como se esse fosse o real objectivo da sua existência, a sua perfeita consumação.
E, no caso dos humanos, talvez que só relativamente há pouco tempo, dada a história da espécie, começássemos a nos 'preocupar' com a sexualidade. O que sabemos é que, existindo várias representações do corpo desde que há registo histórico, o sexo teve sempre um lugar eminente (pela negativa, como no Cristianismo, ou pela exaltante afirmação, como no hinduísmo) em todas as religiões.
Não sabemos até que ponto a nossa concepção do mundo e a própria linguagem assentam nas ideias de cada sociedade sobre o facto da sexualidade.
Agustina emprega o termo 'preocupação', referindo-se, provavelmente, a um desequilíbrio característico da nossa época, em que o sexo se tornou 'estranho' e separado da natureza. Não é a obsessão ateísta dos libertinos do século XVIII, mas a da produção e a da mercantilização tão glosadas politicamente.
O que acaba por ser, em Agustina, uma esperança quase revolucionária...
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