"Para ele (Maquiavel), o ponto decisivo era que todo o contacto entre a religião e a política tem de corromper as duas, e que uma Igreja não corrompida, se bem que consideravelmente mais respeitável, seria ainda mais destrutiva para o domínio público que a Igreja corrompida de então."
(Hanna Arendt)
É um fenómeno que se está a desenrolar diante dos nossos olhos. Graças ao uso mediático da morte, o Estado Islâmico tem conseguido convencer os seus fiéis de que é uma entidade incorruptível que preza mais os testemunhos da fé do que a própria vida. Essa proeza depende de um regime de operacionalidade que põe imediatamente à prova os militantes, sem lhes dar tempo para pensar. A 'acção' tem de ser intensa e exigir o máximo dos combatentes. O recurso a crianças-suicidas é, assim, demasiado lógico para suscitar 'estados de alma'. Elas são a 'pureza' ao serviço da causa da purificação.
Só a normalização do Estado e a sedentarização poderão confrontar estes crentes com a realidade de uma manipulação sem escrúpulos e com a imagem que o resto do mundo tem deles.
O efeito desta 'blitzkrieg' e da barbaridade dos seus métodos sobre a imaginação dos espectadores é tão poderoso como já o líder nazi sabia que era.
De qualquer modo, e voltando a Maquiavel, é por de mais visível que uma cultura com tão pouco espaço para a política não tem qualquer defesa contra o fanatismo religioso (por muito que o cinismo possa ter já corroído os seus líderes).
Assim, a situação actual é a de uma destruição simultânea da religião e da política.
Maquiavel que tem mau nome na história, por causa do nome 'maquiavelismo' que injustamente distorce a sua mensagem, foi capaz de antecipar uma monstruosidade que é filha do niilismo actual e da comunicação instantânea.
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