quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

LEALDADE




"O mal do pessimista é, então, não que castigue deuses e homens, mas que não ame aquilo que castiga - falta-lhe aquela primeira e sobrenatural lealdade às coisas."
(G.K. Chesterton)

Há, no pessimista, um prazer perverso em julgar que o universo faz coro com o seu mal viver. Que as mais das vezes é mal pensar que serve uma inclinação natural.

Sair desse 'estado de alma' implicaria um esforço que o pessimista sente que não seria compensado por um novo regime de prazer. Comporta-se como um jogador da bolsa crente do 'rating', ou, simplesmente, não quer trocar o certo pelo incerto.

A expressão de Chesterton de uma 'lealdade às coisas' parece antiquada e uma higiene do súbdito de Sua Majestade. Sabemos que os amigos devem ser leais e que a hierarquia militar preza tal qualidade acima de todas as outras. Ouvi um deles, há muito tempo, com a máxima gravidade defender, por parte dos soldados, uma 'fidelidade canina'.

Mas seria pena que tais conotações nos fizessem perder a ideia principal: a de que existe um laço natural com o semelhante de que a todo o momento nos abstraímos. Pensar, por exemplo, reclama essa abstracção, já que não se pode pensar colectivamente.

Acontece, talvez, que o pessimismo seja no fundo doutrinário. E que a sua doutrina comece por romper os laços com o semelhante, ao recusar qualquer projecto de vida.

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