domingo, 28 de fevereiro de 2016

O CONTINUUM ERÓTICO

"Sonho duma noite de verão"



A ilusão mais natural e a que mais apaixona a razão é a de que temos diante de nós objectos isolados, distintos, únicos.

E por isso temos de imaginar com algum esforço os fios indestrutíveis da rede que nos liga a tudo e cada coisa às outras coisas.

Agora, salto para o que não parece ter nada a ver com isto: o erotismo.

Um corpo nu, isolado, como acontece em certas doenças psíquicas   (e, por exemplo, no filme de Ingmar Bergman "A vida das marionetas") pode ser um espectro, uma atroz ilusão que permite todos os crimes, desde a tortura à vivissecção. Mas a nudez erotizada é já um complot teatral, com encenação, luzes e movimento dramático. Não podemos agora separar o objectivo do subjectivo.

É o sonho duma noite de verão, no qual podemos acordar com uma cabeça de príncipe ou uma cabeça de burro.

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