quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

GUIA PARA CEGOS


(Michel Houellebecque)

"Os homens e as mulheres que frequentam as 'boîtes' aos pares renunciam rapidamente à procura do prazer (que exige finura, sensibilidade, lentidão), em proveito de uma actividade fantasmática bastante insincera no seu princípio, de facto, decalcada das cenas de 'gang bang' dos pornos 'mode' difundidos pelo Canal +."
(Michel Houellebecque)

É sabido que a luxúria é considerada pela teologia católica como um pecado capital que consiste em procurar os 'prazeres da carne', e os 'anjos maus' foram os responsáveis pela sua introdução no mundo: "Com efeito, estes anjos pecadores e apóstatas ensinaram as mulheres a se maquilharem e a frisarem o cabelo."

Não se pode dizer, claro, que este 'pecado capital', é uma construção artificial dos teólogos, dado que a sua importância no sistema da culpa católica vai muito para lá do 'prazer sexual', e é, por assim dizer, estrutural. Para criar a altura do Céu não se podia deixar de cavar o abismo. A distância em relação à natureza é, pois, uma condição necessária.

Houellebecque, pelo seu lado, fala-nos de uma "baixa tendencial da taxa de prazer' que 'seria, ao mesmo tempo, sumária e inexacta. Fenómenos culturais e antropológicos, segundos, o desejo e o prazer, finalmente, pouco explicam da sexualidade."

A 'renúncia do prazer' na cultura da noite de que nos fala o escritor evoca um 'mundo do avesso' em que parece necessário um guia para cegos.


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