(Falanstério) |
"Uma resposta possível é que o racismo e a retórica ambos se nutram da capacidade da linguagem para criar diferença."
(Lisa Perks)
É de supor que mesmo na situação do 'bom selvagem' as sementes da 'não-identificação' estejam latentes e a relação espontânea com o outro esteja sempre ameaçada pela radicalização da diferença, baseie-se ela na natureza ou na convenção.
O que se deve passar, então, numa sociedade 'feliz', em que as diferenças se sentem protegidas contra a linguagem da discriminação e, pelo contrário, são inspiradas por um florescimento sem limites, como era suposto acontecer nos falanstérios do socialismo utópico?
Talvez a ideia de Charles Fourier nos encaminhe na direcção certa. Porque o seu 'novo mundo amoroso', predisposto para a ocorrência dos encontros mais improváveis, em que, como em 'Sodoma e Gomorra' de Marcel Proust, o extravagante barão de Charlus está certo de encontrar Jupien, o homem dos coletes, tal como o besouro que entra no pátio dos Guermantes 'sabe' que mergulhará na orquídea mais exótica.
Vemos aqui que a linguagem pode também levar-nos para uma espécie de júbilo classificatório alimentado pelo amor da diferença (mas cuja representação é ainda inquietantemente concentracionária).
Será, pois, a linguagem, na sociedade humana, independente dos instintos sociais básicos, e só a força 'plástica', criativa/destrutiva, encontra passagem?
0 comentários:
Enviar um comentário