terça-feira, 14 de julho de 2015

DISCIPLINA E AUTORITARISMO





"No espaço de poucas semanas, a Assembleia Nacional tinha claramente frustrado Salazar pelo número de propostas de lei e avisos prévios introduzidos pelos deputados. Salazar encontrou-se com estes a 19 de Fevereiro para os admoestar e tornou pública a sua crítica através de uma entrevista a 'O Século'. Parte do problema, admitiu, era a falta de disciplina partidária entre os noventa deputados que agiam como indivíduos destituídos de um propósito comum."

"Salazar" (Filipe Ribeiro de Meneses)

Dando como certo que o 'parti pris' não os impediria de ser isentos, se perguntássemos aos deputados de qualquer 'velho' partido da nossa Assembleia, se reconhecem a preocupação de Salazar na sua própria organização, veríamos que só as nuances distinguiriam, no caso da unidade interna, a forma democrática da forma autoritária. Por isso é que os partidos mais fechados são refractários às 'paredes de vidro' e os mais abertos depressa chegam à conclusão que a 'transparência' não pode ir ao ponto de minar a autoridade do líder.

Não estou a comparar os regimes que são muito diferentes noutras partes. E mesmo se a democracia já não pode ser a extensão da tradição que Chesterton, por exemplo, via nela, o voto, o debate público e a liberdade de oposição limitam os que, porventura, com a melhor das intenções, governam contra o povo, quer o voto tenha ou não tenha correspondência directa com a acção do governo (e até se possa traí-lo no dia seguinte), o debate não seja mais do que um remoinho no seio das elites e a oposição possa ser levada a usar a liberdade contra si própria, deixando de cumprir o seu papel de alternativa.

Talvez que, simplesmente, o poder não possa ser utilizado com 'pinças' e seja, no melhor dos casos, um mal necessário.

Que pacto pode ser, então, virtuoso? Há um aspecto do poder que lembra imediatamente a violência mecânica da natureza. A democracia talvez esconda melhor esse pacto faustiano, mas em situações raras, de grande simbolismo, o valor do voto e o que passa por ser a vontade do povo ficam mortalmente expostos.



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