"É difícil, creio, encontrar uma classe dirigente tão podre, tão snobe, sem fé nem lei. As armadilhas que os romanos estendiam uns aos outros, as rixas que desencadeavam, os massacres, são tão numerosos quanto inimagináveis. A corrupção, os subornos alcançaram uma dimensão fantástica no decurso dos séculos. Se fordes um senador, fareis espiar o vosso rival, denunciá-lo-eis ao imperador ou fá-lo-eis envenenar ou assassinar. Existe uma carta de um administrador romano à sua mulher, que lhe escreve cinicamente: "Querida, querida, estou de volta, em breve estarei nos teus braços, tendo roubado metade dos administrados."
(Entrevista de Paul Veyne à Télérama de 7/5/2003)
O imperialismo dos Americanos é, para Veyne, uma verborreia, quando comparado com o dos Romanos. Também esse império foi um fenómeno de centralização e de organização, sempre à frente de qualquer competidor. Mas nenhuma moral, nenhuma religião o limitava. Tudo isso fora investido no imperador. Os seus caprichos tinham o carácter das catástrofes naturais.
Alguém disse que uma sociedade de ladrões é obrigada a uma certa justiça entre os seus membros para poder durar. Os imperadores ultrapassaram muitas vezes essa justiça de ladrão e pagaram com a vida pelos seus excessos. Calígula que, enquanto menor, acompanhou o exército em campanha e foi alcunhado pelos soldados de 'Sandalinhas', tornado imperador e atingido de demência, teve de ser eliminado pelos 'verdadeiros romanos'.
O assassinato do filho de Germanicus não desviou o império da sua ruína, pois tudo continuou dependente da 'justiça' do príncipe e do equilíbrio social, com a paz nas fronteiras e nas colónias cada vez mais ameaçada.
O exemplo destes costumes antigos devia-nos levar a olhar os nossos com mais realismo. Mas a sociedade dos ladrões continuou a existir e a dominar, apesar de termos sido civilizados pelo Cristianismo e pelas Humanidades.
Pelo seu lado, a justiça de ladrão é torpedeada todos os dias pelos Calígulas da finança. Maus tempos para o 'Império'.
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