Michel Foucault |
"Em vinte e cinco séculos atravessaram-se três idades do amor: o prazer, a carne e o sexo."
(Michel Foucault)
A perspectiva é a de um abandono da natureza, ao longo do tempo. Mas parece-me que a linguagem que torna possível o amor implicou uma mudança radical no instinto. Assim, a idade do prazer seria uma espécie de 'infância' (que não fala).
Seguir-se-ia a idade da mortificação, em que todo o amor físico é culpado pelo motivo religioso. O corpo transforma-se em carne pecadora. O 'rendimento' em termos de prazer, deste esquema incriminatório aumenta, num paralelo curioso com a produtividade capitalista ou (nos nossos dias) com a eternização da dívida (ver o artigo de António Guerreiro no Público de hoje).
Enfim, a idade do sexo significará a completa 'independência' do amor em relação ao prazer e ao pecado. É a idade da reprodução sem fim, indexada aos 'mercados'. O sexo das outras idades como que se tornou um segredo de Polichinelo, que retirou ao amor físico a sua aura romântica, e é esse 'amor' sem mistério e sem transcendência que faz dele uma mercadoria entre as outras.
Foucault ainda teve tempo de conhecer o amor cibernético, em que o espermatozóide tem a cara de Woody Allen. Mas não chegou a teorizar essa quarta idade, eficientíssima, mas a que poderíamos também chamar de disfuncional.
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