sexta-feira, 17 de maio de 2013

ARMADILHAS DA CONTROVÉRSIA

Arthur Schopenauer

 

"Se estiverdes confrontados com uma asserção, há um atalho para vos verdes livres dela, ou, de qualquer modo, para lançardes a suspeita sobre ela, colocando-a sob alguma odiosa categoria; mesmo se a ligação for só aparente, ou então de um carácter bastante frouxo. Podeis dizer, por exemplo, 'Isso é Maniqueísmo', ou 'é Arianismo', ou 'Pelagianismo', ou 'Idealismo', ou 'Spinozismo', ou 'Brownianismo', ou 'Naturalismo', 'Espiritualismo', 'Misticismo', e assim por diante. Ao fazerdes uma objecção deste tipo, dais como assente (1) que a asserção em causa é idêntica à, ou pelo menos está contida na categoria citada - quer dizer, exclamais, 'Oh, eu já ouvi isso!'; e (2) que o sistema referido foi já inteiramente refutado, não contendo uma palavra de verdade."

(In “The Essays of Arthur Schopenhauer; the Art of Controversy.”)

 

Nenhum de nós é isento ao ponto de não recorrer a esta 'arte da controvérsia', especialmente na política. Seria preciso não ter interesse nenhum na questão e ser indiferente às regras da convivência.

Por isso, numa conversa, ou numa disputa de palavras, chega sempre um momento em que as palavras e os actos de um adversário, ou de um terceiro que se encontra, no contexto afectivo da conversa, entregue a um juízo sumário, são por nós colocados 'sob uma categoria', como diz Schopenauer.

Há sistemas, por exemplo, o marxismo, que nos dão a ideia de que já previram, para todo o sempre, todos os argumentos com que possam vir a ser atacados. O sistema, antecipadamente, coloca sob 'uma categoria odiosa' toda a crítica presente e futura. Por esta razão, o profetismo de Marx pôde desarmar o espírito crítico de várias gerações.

 

 

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