"(...) a ciência pensa como uma assembleia, como um tribunal ou uma igreja, e funciona como eles, de maneira que, na realidade, a história das ciências evolui, no pormenor como nas leis de conjunto, como uma repetição da história das religiões ou do direito."
(Michel Serres)
Isto parece contradizer a ideia do génio independente que faz a ciência dar um salto de cem em cem anos. Mas a verdade é que é a "assembleia" de que fala Serres que valida e desenvolve as 'descobertas' geniais dos indivíduos.
A ideia da harmonia universal, por exemplo, que não é criação de nenhum espírito isolado, pode seguir-se na história da Física como um dos fundamentos implícitos quer da ideia de Deus quer da da Natureza. E foi o princípio que esteve na base das reticências de Einstein em relação à teoria quântica ('Deus não joga aos dados').
Outra 'obra' que foi sendo construída pela 'assembleia', sem que de resto, e até certo ponto, tivéssemos conhecimento disso, pelo que é, talvez, a mais espontânea das criações colectivas, é a linguagem.
Afinal, a afirmação do filósofo podia aplicar-se a todas as acções humanas que deixam um rasto e uma memória perdurável. Porque só vemos o génio individual, que nos deslumbra com aquilo que extrai do tesouro comum, somos levados a pensar que o que não se vê não existe, ou é pouco importante.
Já pensaram no que existe num 'estado de espírito'? A 'assembleia' faz o bom e o mau tempo. O optimismo, por exemplo, varre as nuvens do céu como um vento enérgico. E isso depende da atitude colectiva, tanto como do que vamos buscar às reservas comuns.
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