O Santo Agostinho de Museu de Arte Antiga |
"O interior do homem manifesta-se no seu exterior, o qual parece diferente segundo a maneira como se olha. Por isso, é preciso, para edificar o povo, dominar a arte do parecer e por vezes 'não apresentar as coisas como elas são, mas tais como parecem."
(Santo Agostinho)
Toda a gente aceita que, especialmente os 'sábios', têm a obrigação de ser o mais simples possível com um 'leigo' ao tentar explicar-lhe uma coisa difícil. Existe até uma espécie de pedagogia que assenta nessa 'simplificação'. A divulgação é, sem dúvida, muito útil mas é sempre redutora.
Se se considera, por exemplo, o problema da tradução da poesia, vemos que ela é um mal menor, pois que, no melhor dos casos, cria um novo poema, sem poder aproximar-se do verdadeiro contexto da obra original.
Ora, nāo foi só a ciência que ganhou uma espécie de transcendência em relação ao não-especialista. A política, que sempre fez uso da mais complicada das artes, embora quase sempre recorrendo à experiência e à intuição, exerce-se em múltiplos planos, mas, cada vez mais, fazendo-se interpretar nos écrãs, onde o parecer se tornou obrigatório.
A 'arte do parecer' de que fala Agostinho deve, pois, submeter-se, em primeiro lugar, às regras do meio utilizado, sob pena do espectáculo ser mal interpretado. A comunicação 'espontânea' é uma excepção e, em todo o caso, a 'representação' é a única que tem sentido para a política.
A 'edificação' deste povo-telespectador passa sempre pelo domínio duma retórica que deixou de ser a dos antigos oradores, para ser uma arte da imagem total. A cor do fato pode valer um bom argumento.
Nesta artificialidade extrema, o cidadão vive em estado larvar dentro do telespectador, e a verdade seria tão alienígena como na "invasão dos body snatchers", o filme de Don Siegel.
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