"As pessoas tendem a avaliar a importância relativa das questões através da facilidade com que são recuperadas na memória - e isso é largamente determinado pela extensão da cobertura nos meios de informação."
"Pensar depressa e devagar" (Daniel Kahneman)
É o que o sociólogo chama de 'heurística da disponibilidade', o que aparece é tudo o que existe.
Somos levados a comprar determinadas marcas, em detrimento de outros produtos, iguais ou melhores, porventura, só porque já estão na nossa memória ou no nosso ambiente. A 'mentira torna-se 'verdade' pela repetição, já o disse um mestre da propaganda.
Tudo isto é 'sabido' ou intuído há muito tempo. Mas quando os testes científicos comprovam essa percepção, a nova ciência torna-se em mais uma técnica e num instrumento de poder e manipulação. Podemos ter a ilusão de estar imunes a esse 'implante' nos nossos cérebros. Mas a conclusão do livro de Kahneman é devastadora: a aparente indiferença e a aparente liberdade são necessárias ao pleno funcionamento do sistema.
Há uma grande diferença entre esta 'naturalidade' simulada e o que se passa num regime sem oposição que se sente à vontade para 'preencher' o espaço com 'palavras de ordem' e imagens do líder. No primeiro caso, o sentimento de liberdade, embora fortemente 'induzido' pelo ambiente, corresponde a uma realidade que é o consentimento do iludido. No segundo, a opressão, pela técnica da gestão de massas, não corresponde necessariamente nos indivíduos à consciência do seu estado. Temos de ter em conta as singularidades do 'pensamento único', que se impõe pela manipulação do ambiente. Palavras de ordem, endeusamento dos líderes são tudo o que existe.
O sentimento que se impõe é o sentimento da necessidade. Tais regimes podem ser eternos (se não forem desfeitos pelo exterior). Isso diz tudo sobre a nossa autonomia.
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