segunda-feira, 6 de maio de 2013

A VAIDADE DAS VAIDADES

Eclesiastes

 

"Um rei que tenha de agir sobre a 'vaidade' é obrigado a inventar distinções e a 'mudá-las frequentemente'. Vejam-se os fraques de Marly, inventados por Louis XIV (Saint-Simon)."

"Promenades dans Rome" (Stendhal)

 

Ninguém utilizou de forma tão magistral uma paixão para resolver um problema polîtico. Como mostrou Rossellini, em "A tomada do poder por Luís XIV", o rei que, durante a menoridade, conhecera os perigos da dissidência 'frondista', procurou acima de tudo preservar a unidade do Estado com a sua versão do sistema solar aplicado à côrte. Através de uma complicada etiqueta e dum ruinoso guarda-roupa seduziu uma nobreza cativa da translação infinita em volta do rei. Pode ser que o estereótipo da vaidade francesa tenha o seu quê de verdade, porque Versalhes conseguiu embalsamar o resto da Fronda num teatro vistoso que deve ter feito a fortuna dos modistas e dos peruqueiros.

Ainda em 1624, no tempo de Luís XIII, o Parlamento de Paris decretava a pena de morte para quem atacasse Aristóteles, morto havia quase dois mil anos. Esta era uma medida ditada pelo medo de mudar. O grande Luís fez da mudança permanente, aplicada à moda cortesã, o melhor dissuasor das ideias novas.

 

 

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