Alexandria |
"Justine e a sua cidade são parecidas, nisto, que ambas têm um forte sabor sem terem realmente qualquer carácter."
"The Alexandria Quartet" (Lawrence Durrell)
A definição é atribuída a uma das personagens do romance, Pursewarden, o escritor suicida. Mas é muito difícil na vida ordinária distinguir o carácter do acentuado 'flavour'.
Na verdade, ser ruivo ou ser exuberante, não são distintivos do carácter, quando falamos de pessoas, evidentemente. Mas já ouvi dizer muitas vezes, por exemplo, que o rio Douro tem carácter, sem dúvida porque a sua paisagem é muito vincada e parece, em certos apertos da rocha, que estamos a ver o cenho franzido do pai dos deuses olímpicos.
O carácter é a 'espinha vertebral' que se conserva nas mudanças de humor, ou de sentimento. É como se a palavra jurada a nós mesmos tivesse força suficiente para atravessar todos os ímpetos da corrente.
Ora, Justine não sabe o que quer, talvez como a maioria de nós, mas não deixa de ter uma personalidade forte que lhe vem de ser, ou de se julgar ser, completamente livre. A sua diferença vem-lhe afinal da riqueza e do poder do seu marido numa cidade onde todas as raças e todas as formas sexuais se misturam sem que se possa encontrar um tipo que correspondesse ao ser alexandrino.
Como poderia o grande caravansará egípcio ter um carácter se a sua alma é a misceginação e a falta de fronteiras, cantadas pelo 'velho poeta' (Kavafi)?
Identidade, fronteiras e limites, coisas que faltam à mulher de Nassim e fazem o seu fascínio e a sua fraqueza.
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