"Se a União Soviética lançasse as suas bombas e matasse todos os que têm mais de 30 anos e são chineses, isso resolver-nos-ia o problema [da complexidade dos muitos dialectos da China]. Porque as pessoas de idade como eu não conseguem aprender chinês [mandarim]."
(Mao Tse Tung a Kissinger, in "On China" de Henry Kissinger)
À primeira vista, é uma enormidade, uma brincadeira que o presidente se permite com o representante de Nixon. Mas não deixa de inquietar as nossas dúvidas sobre os limites que o poder se compromete a respeitar.
Parece uma leviandade e, ao mesmo tempo, uma possibilidade no espírito de quem concebeu outras 'simplificações' não menos abstractas e que passaram à ordem dos factos, como o 'Grande Salto em Frente', cujo balanço de 30 milhões de mortos por causa da fome foi terrível para a nação (o poder era de facto mais mortífero do que as bombas soviéticas...).
A certo ponto de abstracção, já não há contacto com a Terra, como uma nave no espaço privada do seu sistema de comunicações. É a altura em que a 'missão' tem de ser reprogramada subversivamente. Tenho presente o filme de Kubrick, '2001, Odisseia no Espaço'. O título significa um regresso a casa, ao princípio da humanidade. E tudo porque o Hal 9000 foi impedido de concluir a missão para que tinha sido programado. Os tripulantes perceberam que a missão pressupunha a sua ignorância sobre os motivos e a verdadeira fiilnalidade da viagem.
O poder absoluto é o 'Salto em frente', ou a desumanidade e a fome programadas em nome de uma categoria abstracta, como o Homem Novo, ou a Revolução, e é a mentira de Hal 9000 que corresponde a uma tomada do poder pela inteligência artificial.
O presidente chinês, com a sua cínica anedota, quis, talvez, chocar o diplomata americano, tido como astuto, mas afinal ingénuo. Ao fim e ao cabo, os dois homens tinham em comum o disporem de grande poder, logo, a possibilidade de errar desastrosamente. Um, já na decadência, mostra os colmilhos amarelados pelo tabaco, enquanto brinca aos soldadinhos de chumbo, o outro, ciente que o seu nome conquistou já um lugar na história, não releva a megalomania senil do seu intetlocutor. Instrui-se e quer instruir-nos sobre a 'China Misteriosa'. Nada o choca, de facto, porque tudo é suposto ser diferente, senão incompreensível.
Hoje assistimos a outro fenómeno intrigante: o da América misteriosa para si mesmo, com bonecos que valem tanto como Mao e outros 'tigres de papel' a saltarem da sua caixa.
1 comentários:
Na verdade, este títere dos usa (que me recuso a nomear) ainda me parece mais perigoso, pelos apoios (perpendiculares e aparentemente insuspeitos) que tem.
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