segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

POLÍTICA DA VOZ

John Maynard Keynes (1883/1946)


"O seu sucesso vinha em grande parte da rara combinação dum espírito brilhante e vivo, dum domínio da língua inglesa com o qual poucas pessoas podiam rivalizar e, o que não é mencionado na sua Vida (R.F. Harrod), mas que sempre me pareceu um dos seus melhores trunfos, duma voz maravilhosamente persuasiva."
"Essais" (Friedrich Hayek)

Nesta apreciação do biografado, John Maynard Keynes, Hayek não esconde as suas divergências com o economista (que diz que não era, verdadeiramente) e com as suas ideias políticas, mas reconhece o génio do homem, do universitário ("mais incisivo do que profundo e minucioso", e "guiado por uma poderosa intuição que o impelia a tentar demonstrar a mesma coisa uma e outra vez por diversos caminhos.")

O que despertou o meu interesse foi, porém, o que Hayek diz da voz de Keynes. Está por fazer uma política da voz, que reconheça a sua importância como factor de sedução e de conversão dos espíritos.

Há vozes que desmentem, ignominiosamente, a estatura física, como é o caso de Marlon Brando. Outras há que extravasam as margens da comunicação normal, trazendo o fundo lamacento à superfície, como a do ditador nazi. Pude convencer-me recentemente, graças a um documentário, que todos os líderes nazis se serviam dos guturalismos do Führer, sem dúvida para marcar a sua fidelidade indefectível, tanto como para obterem no auditório, por associação, uma parcela do seu magnetismo não retórico.

De facto, não compreenderíamos a influência de Hitler sem aquela voz, mais poderosa ainda pela rádio, quando se tornava num demónio interior.

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