"(...) Os Romanos acreditavam profundamente no poder dos mortos de influenciar os vivos, assim, mantinham relações com os antepassados falecidos através de vários rituais e festivais públicos. Entre os mais importantes destes festivais públicos estavam as 'Parentalia', todos celebrados em Fevereiro e os 'Lemuria', realizados cada ano em Maio. Durante as 'Parentalia', as famílias visitavam os túmulos dos seus antepassados e faziam oferendas de comida e vinho. Quanto aos 'Lemuria', o 'pater familias' seguia certos rituais para manter a casa e a família segura em relação ao espírito dos antecessores mortos."
"Ancient Greece and Rome" (Carrol Mouton)
Vê-se como toda a série de filmes sobre os 'zombies' explora um riquíssimo filão. E tão íntimo, perdido nos aluviões do tempo e da nossa evolução, mais escondido não podia ser.
Claro que o 'medo', ou a superstição, que experimentavam os antigos pelo regresso da alma dos mortos não significava que estes não fossem, ou não tivessem sido amados, antes pelo contrário.
A crença na separação da alma e do corpo corria bem, desde que os dois 'mundos' permanecessem distintos depois da morte. Em tempos mais próximos de nós, a 'visita virtual' de um familiar querido já não inspirava o mesmo terror e podia ser confortante e inspiradora. No tempo de H.G. Wells, um curioso desse fenómeno, a convocação dos mortos através dum 'medium' transado (sincera ou fingidamente) tinha-se até tornado um jogo de sociedade. O lúdico é o último estádio das nossas superstições.
O terror ancestral explica-se pela incipiência do mundo 'construído' (em tijolos e cimento e em dogmas e ideologias, apelando umas vezes à religião, e, mais tarde, também à ciência). O ambiente menos propício à segurança e à 'economia', desde a troca primitiva ao capitalismo em degenerescência dos dias de hoje, ou o mesmo, mas com esqueleto burocrático 'new look', que cresce sobre o precipício, é a confusão dos dois mundos. Uma maneira de dizer que a economia mundial e a sua representação já estão na sua fase zombie.
Então, talvez devêssemos esconjurar esses fantasmas, como faziam os Gregos e os Romanos, através de festivais e cerimónias públicas a condizer.
O actual presidente dos USA parece ter-se adiantado. Apresenta-se como um verdadeiro empresário no seu 'Reality Show' de esconjuro de todo o passado e de toda a tradição. Enfim, talvez tenha começado agora o enterro definito dos nossos mortos, grandes ou pequenos.
0 comentários:
Enviar um comentário