sábado, 4 de fevereiro de 2017

A PERFEIÇÃO DA MIOPIA



"Todo o aumento de clareza tem em si mesmo um valor intelectual; um aumento de precisão ou exactidão só tem um valor pragmático como um meio para um fim definido, onde o fim é usualmente um aumento da testabilidade ou criticabilidade exigido pela situação do problema."

"Unended Quest" (Karl Popper)

Popper parte do princípio que a exactidão e a precisão são inatingíveis e, que se resolvermos os problemas com menor "focagem", fazemos tudo o que é necessário. O esforço para uma precisão ou exactidão "desnecessárias" cairia no domínio do estético, ou da perda de tempo.

A redução do espírito científico a uma problemática vai contra a tradição metafísica de que a ciência é herdeira. E a poesia, no princípio de tudo, certamente não tratava de problemas, mas da humanização de toda a experiência, como se todas as respostas estivessem patentes na frase de Tales de Mileto que dizia que tudo está cheio de deuses.

E, pegando no axioma de Popper, quais são os problemas duma pequena miopia? Pode-se ter uma vida normal, cheia de sucessos, e sem óculos. Podíamos dizer, neste caso, que a correcção da visão seria apenas pelo prazer de ver com maior nitidez.

Também o luxo da exactidão pode ser um prazer, talvez perverso, e que, além disso, porventura, contribui para a antecipação de outras problemáticas.

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