sábado, 25 de fevereiro de 2017

O HORROR DE POMPEU

A Thora

"Por definição, o homem está sempre errado aos olhos da divindade mosaica e dos seus imperativos de perfeição. A resposta de Job é de uma enormidade desumana, como se sabe. Os seres humanos vulgares sabem que, sob o peso do amor deste Deus e dos Seus mandamentos de reciprocidade no amor, a alma tem de ceder. Qual o judeu pensante e sensível que, em certos momentos, não partilhou já o horror de Pompeu quando os romanos irromperam pelo templo capturado e encontraram vazio o Santo dos Santos?"

"Paixão intacta" (George Steiner)

Que grande oportunidade para o espírito, como contraponto da "carne", que maravilhoso impulso para a mais desenraizada e livre abstracção, esse vazio que horrorizou Pompeu! Pompeu, o idólatra, e também ele ídolo.

Há uma leitura darwiniana desse triunfo da inteligência especulativa, da metafísica e da sua crítica, que caracteriza a civilização tecnocientífica do Ocidente.

É porventura pelo facto do Judaísmo ser uma religião sem território, a não ser escrito, de ter podido correr o globo e suportar exílios e perseguições, graças à leveza e à reprodutibilidade do Livro (Debray), que essa inteligência e esse espírito se conservaram, a ponto de nenhuma outra cultura poder concorrer com o Judaísmo em sobrevivência.

O enorme débito da ciência e das ideias a personalidades oriundas dessa cultura é um sinal de que a "segregação", por um lado, e o incomensurável orgulho, por outro, desempenharam um papel talvez insubstituível nas nossas capacidades de adaptação e nas nossas frustrações, espicaçadas por um sonho tenaz de perfeição.

"Na sua essência, o marxismo é o judaísmo impaciente." "(...) o reino da justiça tem de ser implantado pelo próprio homem, nesta terra, aqui e agora." (ibidem)

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