"A arte é a representação bela de uma coisa e não a representação de uma coisa bela ."
(Emmanuel Kant)
Na "Última Ceia" de Ugolino Da Siena (sec.XIV), Cristo não está no centro, como é o caso de tantas outras pinturas, mas à esquerda, no topo da mesa; o discípulo favorito, João, dorme no seu braço. É a imagem da confiança infantil no parente mais próximo. Não está naquela assembleia, participando na diversidade dos caracteres, na escuta dos mais chegados, nem nas outras conversas. O espírito não está adormecido, mas tão seguro da bem-aventurança que não chega a ser consciente. Será, esta 'despreocupação', o modelo do crente? Em todo o caso, nesta pintura Cristo não fala para todos e quase metade dos apóstolos distrai-se no diálogo paralelo.
Dir-se-ia que a cena explica a inspiração do futuro místico de Patmos, no seu evangelho. Aquela fusão de identidades no segredo. Há uma separação muito distinta entre o par da esquerda e todos os outros. Estes significam seja o acordo implícito, seja a dialéctica grega ou a dissidência judaica, necessárias à edificação da 'igreja terrena', no mundo semita e no mundo dos gentios.
Como diz o autor da 'Crítica do Juízo', o que é belo está na ideia e na forma, não no encontro real ou possível de um jovem adormecido e do seu amigo com o grupo dos seguidores e militantes do verbo.
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