sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O PARADOXO DE POLANYI



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"Polanyi nota que toda a filosofia social do liberalismo económico, de facto, se baseia 'na ideia de que o 'laissez-faire' foi um desenvolvimento natural', com os seus opositores presumivelmente agindo no sentido de restringir a liberdade natural. Ele contrapõe: 'a introdução dos mercados livres, longe de tornar dispensável a necessidade de controlo, regulamentação e intervenção, aumentou enormemente essa necessidade.' Isto leva ao paradoxo de Polanyi: 'O 'laissez-faire' era planeado, o planeamento, não.' A última frase sugere que os esforços para conter a disrupção social causada pelo desencadeamento do sistema de mercado eram as verdadeiramente espontâneas acções humanas."

"The problem of Karl Polanyi" (Allan Carlson)

O paradoxo significa que, para certos ideólogos, a liberdade atribuída às forças sociais seria uma extensão da liberdade dos indivíduos e que, como esta, nada teria a ver com as chamadas 'forças da natureza'. Na realidade, ambas as forças são objecto de um mesmo desconhecimento, ou de uma mesma ilusão, se quisermos, com a diferença que a explicação através de leis físicas é mais convincente do que a explicação económica, por exemplo. Em todo o caso, sabemos que não é prudente confiar na 'bondade' dos elementos, sem ter em conta as suas ocasionais fúrias, como não o é confiar na previsibilidade dos mercados.

É precisamente a ideia de que os mercados são construções humanas que expõe tantas pessoas ao erro de pensaram que os homens são os seus criadores e que podem planeá-los como uma coisa fabricada. As cíclicas crises económicas desmentem completamente essa fantasia.

Polanyi, tal como Colombo, limitou-se a desfazer a forma natural do ovo para conseguir pô-lo de pé. Não, a sociedade está mais perto de se aparentar a uma força natural,  do que a uma produção humana, racionalizável ou não. Teremos, talvez, de largar o lastro da política e da liberdade, tal como a idealizámos ao longo dos séculos, para descobrir o plano infalível e a 'organização perfeita', isto é, sem qualquer rasto da sociedade humana.

O paradoxo de Polanyi é desarmante na sua singeleza. Sempre que respeitamos a 'liberdade das forças', entregamos o planeta aos predadores, que é o que tem acontecido. 

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