terça-feira, 12 de abril de 2016

SEGUNDAS INTENÇÕES




"Não se pode viver com pessoas das quais conhecemos as segundas intenções."
(Albert Camus)

Segundo uma espécie de radicalismo ético-político isso seria talvez impossível. Porque tal transformaria a vida pública numa farsa. Poderia esta 'transparência' deixar de originar uma imediata 'descodificação'?

E, no entanto, não é a essa farsa que assistimos, todos os dias, no mundo político? Os partidos 'pensam' segundo a fórmula de que as 'verdadeiras intenções' dos partidos concorrentes são um 'segredo de Polichinelo'. E quando existe um partido radical, com as características, por exemplo, do nosso partido comunista, torna-se um jogo demasiado fácil desqualificar todas as suas propostas, porque as suas 'segundas intenções' balizam as fronteiras ideológicas do próprio regime. Só por ter confundindo os 'cães de guarda' da ideologia, este governo merecia governar.

A própria existência das instituições democráticas é o desmentido daquela citação. As 'pessoas' convivem com a diferença, encontrando uma linguagem comum, apesar de tudo, mas dotando essa diferença de uma característica dir-se-ia física, como se se tratasse de uma bossa de camelo, ou de um gargalo de girafa. A fábula teve sempre um grande significado político.

E em vez da incomunicabilidade abstracta, essas pessoas dedicam-se à 'comédia de enganos' que é um 'diálogo civilizado' perfeitamente funcional, porque nunca está em causa a verdade,  mas o 'contrato social'.


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