quarta-feira, 6 de abril de 2016

O PODER CORROMPE

(Baltasar Garzón)

"Citando o amaldiçoado juiz Baltasar Garzón em "Um Mundo sem Medo", por exemplo,  os custos empresariais na China encarecem em cerca de 46% por causa das comissões de corrupção, na Rússia em cerca de 43% e na Turquia 36%."

(Maria José Morgado, Expresso de16/06/12)

Com os 'Panama Papers' e as revelações desta ululante crise financeira, torna-se evidente que a virtude não está em lado nenhum. Pode-se procurar à lupa: a corrupção parece estar em todo o lado e em todos os sistemas,  tanto no poder absoluto como no poder das novas ou velhas democracias. Claro que se pode sempre dizer que o poder, nestas, tem de mentir aos seus cidadãos, enquanto os servos de todos os queridos líderes da terra só podem esperar que a força tenha o rigor mecânico e o carácter indiscutível da morte. Daí o impacto das imagens das decapitações. 

A opressão de um déspota não é só pior do que o poder corrupto, ele é a quintessência da corrupção, porque o medo também corrompe.

Os 'offshores' não parecem meter medo a ninguém e até serão impecáveis do ponto de vista legal. São, no entanto, uma injustiça que brada aos céus. Se, 'ao menos mau dos regimes' que concede esta licença para alguns fazerem o mal através da lei, juntarmos a incapacidade, cada vez mais flagrante, em garantir a segurança dos seus cidadãos face ao terror global, temos todo um outro défice de que não se fala.

Este triunfo dos advogados 'do diabo' e dos legisladores contra a lei para proteger uma coutada que, depois da Revolução Francesa, ficou de repente sem futuro, ilustra bem aquele aforismo de que não adianta expulsar um demónio pela janela, porque ele logo encontra a entrada pela janela.

Esse Terceiro Estado que teve em Robespierre o seu luminar vive agora o pós-vida do cinismo. Se escapasse à guilhotina e tivesse podido desafiar a lei do tempo, seria talvez esse o futuro do Incorruptível.


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