terça-feira, 19 de abril de 2016

O GÉNIO E AS MÓNADAS



"Os espíritos menos megalómanos ( de que os demasiado cartesianos) sabem, esses, que desde que não se trate de desenrolar a partir de um 'primum verum' esse longo encadeamento de razões de que gostam os geómetras, ao método dá lugar a tópica, que tem como objectivo tentar pensar em tudo, sem estar segura de o conseguir."

(Paul Veyne)

Pergunto-me se este não poderia ser um exemplo da célebre 'astúcia' da razão histórica concebida pelo mestre de Iena e os seus discípulos.

A evidência absoluta em que Descartes fundou o seu racionalismo é a primeira coisa a perder-se ao subirmos ao primeiro andaime de consequências. Quando a álgebra se tornou essencial para o cálculo matemático, o 'primum verum' foi largado nas trevas exteriores. Mas o que ficou tornou-se uma construção formidável, que parece, no entanto, já desconectado com a experiência humana ou o 'sentido da vida'.

Como diz Veyne, a ideia de um método (era o sonho de Marx) que conservasse a independência do Sujeito e a visão prometeica sobre os cumes, sucumbiu ao poder da magia saída de uma lâmpada de Aladino.

Poderia a tópica de que fala o historiador francês ser, afinal, um regresso à monadologia? Não podemos afastar-nos da 'verdade' ou da 'evidência' porque elas estão em toda a parte como um microcosmos em que a totalidade se reproduz...

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