"A cegueira cultural da vida diária na civilização das ameaças é irreversível; mas a 'percepção' cultural é filtrada através dos símbolos dos 'mass media'"
(Ulrich Beck)
O mundo primitivo foi, sem dúvida, um bom exemplo de um mundo de ameaças. O ouvido, o órgão nocturno, testemunha dos tempos em que se vivia em permanente alerta, por causa do inimigo humano ou da fera. A civilização começou, pois, pela segurança e um cosmos à nossa medida, com um deus protector.
Éramos cegos, e contentávamo-nos com os mitos e as lendas. Agora é o conhecimento que nos contenta e que nos torna cegos, de outra maneira. Para só falar de ameaças e de segurança, o progresso do conhecimento revela-nos a imensidão do não-conhecimento e, como diz Beck, a ilimitada realidade da 'impossibilidade de saber'.
O que é irreversível é, então, a perda do mundo perfeito (também na acepção de acabado) da mitologia. A ciência corresponderia, assim, a uma outra 'expulsão do paraíso'. Na Bíblia, era esse o preço de provar o fruto da 'árvore da sabedoria', o 'fruto proibido'.
Beck usa a adversativa para introduzir a questão do 'filtro mediático'. Fomos expulsos do paraíso, mas podemos poupar-nos a percepção disso, graças a uma nova história, desta vez, contada pelos média. E já McLuhan observara que a verdadeira educação devia ter como função contrariar o efeito dos média no espírito humano...
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