sexta-feira, 15 de abril de 2016

REQUISITÓRIO CONTRA A CEGUEIRA

"In the Penal Colony", opera by Philip Glass


Numa conversa de pendular, alguém empregou a expressão de "justiça cega" para dizer que a Lei não seria só insensível aos interesses, mas ao próprio homem.

Seria como uma máquina que não pudesse ser travada, um formalismo sem estados de alma, cuja aplicação fosse não só incontroversa mas quase automática, à maneira do dispositivo engendrado por Kafka na "Colónia Penal" que marcava a carne, de acordo com o desvio, com a precisão de uma tabela.

Quem assim falava procurava compreender a injustiça de que fora uma vez vítima.

Mas Shylock é o anti-juiz, e a cegueira que proverbialmente se atribui à justiça é ao mesmo tempo impessoal (não olha a quem, ao seu poder ou prestígio) e atenta ao que faz de cada caso um problema sem qualquer comparação.

A justiça depende, pois, por parte dos juízes duma qualidade negativa como a pureza e dum género de atenção criadora ( a positividade que não está na Lei).

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