"Era o fogo que unificava a situação. Sentíamos o fogo (no Palácio da Justiça de Viena, em 15/7/1927), a sua presença era avassaladora; ainda quando o não víssemos, tínhamo-lo presente no espírito, a sua atracção e a atracção exercida pelas massas era uma e a mesma força..."
"Masse et Puissance" (Elias Canetti)
A experiência dessa atracção não saiu do pensamento de Canetti, até que a 'exorcizou' pela escrita. Quando jovem testemunhou, em Frankfurt (1920), uma multidão tumultuosa em protesto contra a inflação. Sete anos depois, em Viena, a massa furiosa lança fogo ao Palácio de Justiça. O espectador é arrebatado por um temor que o paralisa. Canetti fala em atracção. O que se entende se considerarmos que a 'massa' na sua exibição de força pode esvaziar o discernimento do indivíduo e submetê-lo ao poder da imitação. A multidão agitada provoca sempre o alarme no 'cérebro reptiliano'.
No caso de um grande fogo há também uma espécie de curiosidade, mesclada de prudência. Precisamos de ver o incêndio controlado, a fim de podermos dormir.
A segurança é uma necessidade muito mal compreendida desde que confiamos no Estado e na polícia. Mas o terrorismo tem vindo a subverter esse 'pacto'; o Estado falha na segurança mínima, desde que o inimigo individual esteja disposto a trocar a sua vida pelo maior número de vítimas inocentes.
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