segunda-feira, 25 de abril de 2016

A RAZÃO REVOLUCIONÁRIA


A Revolução Francesa


"Todas as revoluções civis e políticas tiveram uma pátria e a ela se limitaram. A revolução francesa não teve território próprio; mais ainda, o seu efeito foi o de alguma maneira apagar do mapa todas as antigas fronteiras. Vimo-la aproximar ou dividir os homens a despeito das leis, das tradições, dos caracteres, da língua, tornando por vezes inimigos os compatriotas, e irmãos os estrangeiros; ou melhor, ela formou, acima de todas as nacionalidades particulares, uma pátria intelectual comum da qual os homens de todas as nações puderam tornar-se cidadãos. Rebuscai em todos os anais da história que não encontrareis uma só revolução política que tenha tido este mesmo carácter: só o encontrareis em certas revoluções religiosas. Assim, é às revoluções religiosas que é preciso comparar a revolução francesa, se nos quisermos fazer entender com a ajuda da analogia."

"L'ancien régime et la révolution" (Alexis de Tocqueville)

É estranho que esta semelhança entre uma política universal (e não já cingida à 'polis' da etimologia) e a religião não tenha sido mais óbvia nos nossos dias, a propósito, por exemplo, da ideia política mais influente do século XX: o comunismo.

A origem filosófica desta ideia, a partir do sistema hegeliano, dotou-a dessa reivindicação universalista que trazia como primeira consequência a esteticização da religião, depois das iniciais escaramuças pelo domínio do território, em que a religião aparecia ainda como 'o ópio do povo'.

Como se sabe, o próprio Robespierre fez jus a esta tese tocquevilliana, ao instituir a deusa Razão no trono deixado vago por Deus, visto ter consciência de que era demasiado curta a inspiração da Roma Antiga.

O que é mais interessante é o desenvolvimento desta peculiaridade da revolução francesa. Porque, apesar de se parecer com o espírito de conquista, Napoleão encarnou, sem sombra de dúvida, o idealismo da revolução até cair na armadilha do poder absoluto.

Esse idealismo 'unindo os homens para lá das nações', com a reacção política, revelou-se um dos melhores exemplos da chamada 'astúcia' da Razão (ou da História), ao aplanar o caminho do capitalismo nascente e do reino universal da mercadoria, para dizer como Marx.

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