"Ora, aquilo que dissemos mostra que a faculdade de aprender e o órgão dessa faculdade existem na alma de cada um. Mas existem lá como um olho que não poderia, a não ser acompanhado por todo o corpo, voltar-se para a luz e deixar as trevas."
"A República" (Simone Weil)
A ideia da separação do corpo e do espírito é aqui posta em causa por Simone Weil. Qual é a importância, então, de dizer que essa 'faculdade de aprender' e o respectivo órgão existem na alma, quando esta, aparentemente, é inseparável do corpo?
Podíamos considerar o dualismo cartesiano como nada mais do que metódico, como o indica, aliás, o título da obra ("Le discours de la méthode"). Ao tentar actualizar Platão de acordo com o método cartesiano, Simone recorre à alegoria da Caverna para explicar o espírito como função de uma atitude, ou até de uma posição do corpo. Os olhos da alma só 'vêem' na medida em que 'todo o corpo se vira' para a luz.
Com isto, Simone parece resistir ao misticismo que, na verdade, também tem pouco de platónico. O mais difícil é, porém, estabelecer a ligação entre o idealismo do tipo cartesiano com o materialismo.
0 comentários:
Enviar um comentário