"Não será preciso, então, preservar as realidades espirituais para nelas encontrar a inspiração necessária ao exercício prático, efectivo, da solidariedade e da responsabilidade?"
"Levantar o céu" (José Mattoso)
Esta defesa do espírito (contra o materialismo) poderia ser assumida por um materialista mais subtil. Com efeito, não é preciso acreditar em Deus, nem em qualquer espécie de transcendência, para reconhecer que não é o interesse vital ou económico que só por si pode inspirar uma ideia como a solidariedade, ou a responsabilidade. É preciso uma cultura mais complexa que o capitalismo, e, aparentemente, em contradição com ele, para 'produzir' um ser solidário.
É mais um exemplo do princípio da boa utilização de uma ideia contrária, como é o caso da célebre teoria do aproveitamento das paixões pela vontade moral.
Alain fala-nos do interesse muito moderno que seria o de um negreiro do século XVI que tratasse os seus escravos com os cuidados de higiene e saúde que já nessa altura tinha para com o seu gado.
Isto, evidentemente, não tem nada a ver com humanismo. É comércio apenas. Como na citação de Mattoso, tampouco se trata de espiritualidade ou religião, mas, por mais chocante que pareça, de utilidade social.
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