terça-feira, 5 de maio de 2015

TOLERÂNCIA




"Sejamos, pois, tolerantes para os prazeres de outrém, a fim de que o sejam para os nossos."

(Plínio, o Jovem)

Aqui soa estranho que a palavra tolerância seja aplicada ao prazer dos outros. É, sem dúvida, um sinal de que o autor se refere a iguais, cidadãos romanos como ele. Porque em relação aos escravos e libertos de que tolerância se poderia tratar? No entanto, podiam suportar-se os caprichos de um animal doméstico.

Na sua esplêndida villa, é verdade, no período das saturnais, o 'dominus' retirava-se para longe do barulho e dos 'sinais exteriores' de uma libertação simbólica do jugo. Entregava-se ao estudo, geralmente meditando sobre um rolo de pergaminho, enquanto os domésticos se recriavam no 'mundo do avesso'.

Além disso, havia a lei e os outros costumes que regulavam o poder entre as classes. O abuso sem limites não garantia longa vida à instituição. Quando mais tarde os negreiros trataram a carga humana pior do que tratavam o gado, apressaram o fim do seu amaldiçoado negócio. O preconceito impedia-os de ver onde estava o seu verdadeiro interesse.

Hoje a ideia de tolerância vêmo-la, como sempre, nas questões de sexo, de raça, ou de religião, onde muitas vezes parece ter perdido a sua eficácia. A pobreza e a falta de futuro andam de mãos dadas com o fanatismo mais destruidor. E a tolerância não pode rimar com a fraqueza do juízo.

Em democracia, continua a existir o prazer que incomoda os outros, como o ruído das discotecas ou o fumo do tabaco. Mas a tolerância não pode entrar no cálculo dos prazeres.

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