Não matarás! O 5º episódio do "Decálogo" de K. Kieslowski. Lazar vai fazer vinte e um anos e é um jovem revoltado. Não sem causa, como Dean, percursor dum mundo em que os jovens iam nascer como grupo cultural autónomo, com as suas referências próprias, de penteado, de vestuário, etc. Haverá causas desproporcionadas em relação aos seu efeitos?
Lazar perdeu a sua irmã preferida, atropelada por um tractor. A sua raiva dirige-se contra tudo e contra todos e encontra apenas escape num crime hediondo.
No julgamento, conhece um jovem advogado, que é contra a pena capital. Vemos pelos olhos deste, não a violência passional dum indivíduo, mas a violência ritual e metódica, organizada pelo Estado, que acaba naquele tumulto obsceno do enforcamento.
Para mim é claro que a Lei de Talião não pode ser seguida pelo Estado. Que há desproporção, completa assimetria entre o indivíduo e o Estado. Também não o justifica completamente a função de proteger os outros cidadãos, isolando o criminoso, porque a prisão é igualmente destrutiva.
Num certo sentido, o criminoso pune-se a si próprio, excluíndo-se da comunidade e do pensamento comum ( e, como diria Simone Weil, nasce de novo com o castigo desejado).
Mas é preciso evitar a reincidência e proteger os outros, mesmo se a regeneração nalguns casos é possível. A verdade é que, faça o que fizer, o Estado não pode ser justo (é sempre violento de mais, abstracto de mais).
Aqui parece funcionar a fórmula liberal, de quanto menos Estado melhor.
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