segunda-feira, 4 de maio de 2015

A NAVE DOS LOUCOS




"(...) a  ideia  que  Engels  retirou  de  Saint-Simon:  a  dominação  dos  homens  pelos homens  cede  lugar  à  administração  das  coisas."

(Jürgen Habermas)

Isso seria possível se a última das classes chegasse à dominação, pondo fim ao capitalismo e à milenar 'exploração do homem pelo homem'.

Foi essa ideia que levou Lenine a formular a célebre 'blague' sobre a cozinheira à frente do Estado.

Mas o que é que, desde o princípio, condiciona a 'administração das coisas'? Não teriam já os antigos Romanos a noção de que ao Estado competiria, em última análise, a administração da 'coisa pública'?

Pode entender-se até que o conceito saint-simoniano não terá sido mais do que uma tentativa de regresso à tradição. A ruptura ter-se-á dado com a introdução do Sujeito da história na filosofia hegeliana e, posteriormente,  com a elevação da ideia de classe social a esse estatuto.

Mas o Sujeito da história perde toda a pertinência se o separarmos daquele  sistema filosófico. Pelo contrário, o que a história subsequente tem mostrado é que parece cada vez mais utópica qualquer comparação entre a consciência e a responsabilidade individuais e qualquer entidade nacional ou internacional que possa reclamar-se daquelas qualidades.

A análise de Thomas Piketty não deixa dúvidas sobre isso. Não vai ninguém ao leme da nau capitalista. E, na Europa 'comunitária', por exemplo, assistimos à eterna parábola dos cegos que conduzem outros cegos.

A nave dos loucos não merece outro nome.

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