quinta-feira, 28 de maio de 2015

A LUA, NEM MENOS

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"O nosso tempo já não inclui nos êxtases do sentimento outra coisa que não seja o êxtase 'sentimental', e reduziu a embriaguez lunar a um desprezível excesso deste género. Ele não pressente que esse êxtase, a menos que seja uma perturbação mental incompreensível, só pode ser um fragmento de uma outra vida."

(conversa entre Ulrich e a sua irmã, in "O Homem sem Qualidades")

Este 'monólogo' sobre a lua expõe-se na claridade incestuosa de um subentendido. O incesto não é actual, nem realmente possível, mas condiciona toda a comunicação entre os dois. Está diante deles como a porta infernal inacessível aos geómetras.

A linguagem converte o êxtase lunar dos outros, numa vulgaridade de 'crooner'. Ulrich está ciente que lhe é vedado resvalar para o sentimentalismo 'romântico', mas não pode negar o fascínio, associado ao amor, provocado por essa luz emprestada.

Porque o céu nocturno, a face escondida do azul ou das nuvens, nos foi roubado pelo néon, e o êstase é quase um privilégio dos astrónomos.

O sentimentalismo mantém-nos na ignorância e justifica o orgulho nimbado da espécie.

 

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