"As obras de arte são de uma solidão infinita, e nada as toca menos do que a crítica. Apenas o amor as pode alcançar e deter e julgar equitativamente."
(Rainer Maria Rilke)
A crítica seria assim uma rede que apanhasse nas suas malhas tanto a produção medíocre, quanto a mais sublime. Uma por ser patente a sua incompetência para alcançar o seu modelo, a outra porque ela, a crítica, é cega perante a autenticidade.
Mas vem-me à ideia um dito atribuído a um grande compositor do século XX, o qual teria afirmado que o gosto da boa música não é 'natural' como é, por exemplo, gostar de pêras ou de maçãs.
Pondo de lado a questão de saber se a predilecção por certos frutos é espontânea e não depende da cultura, o que parece estar implícito neste juízo é de que o gosto por algo tão artificial como a música dita séria também tem de ser aprendido, o que explica, até certo ponto, o afastamento do grande público em relação à música 'de vanguarda'.
Esse seria um fosso inultrapassável, se não fosse o caso daquela aprendizagem se fazer (ou ir fazendo) intuitivamente, no tempo. Bastando para isso que não declaremos à partida que tal artificialidade está acima das nossas possibilidades ou não merece sequer um esforço de 'acomodação'.
Passa-se aqui o mesmo que se passa na literatura, por exemplo. Ninguém consegue compreender Joyce se não decidir primeiro que vale o tempo necessário para o compreender. Alain dizia que o leitor impaciente gostaria de saltar as longas introduções de um romance de Balzac, como "Le lys dans la vallée". Mas essa espera não serve apenas para enquadrar e dar um fundo histórico às personagens. Corresponde também ao silêncio ou à aproximação gradual que, na música, antecede o tema e o movimento.
Tem todo sentido falar do amor a este propósito. Porque é o amor que abre o futuro com uma esperança ilimitada, sem nada cobrar ou querer que se passe recibo.
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