sexta-feira, 22 de maio de 2015

MEFISTOFÉLICO OU DEMASIADO HUMANO?





"- Quem és tu, afinal?
- Sou uma parte dessa força que, eternamente, quer o mal, e   que, eternamente, faz com que o bem se cumpra."

"Fausto" (Goethe)

Esta é uma visão da Física, apesar da sua roupagem teológica. Sabe-se que o grande poeta foi um físico de mérito e quanto a teoria das cores o interessava.

O Cosmos, como um todo, é uma ideia que nos obriga a pensar nas leis que o regem e numa 'moral' que visa a perfeição dessa totalidade. A perfeição é o que faz o Cosmos 'perseverar no seu ser', como diria Spinoza.

A ética desse ser é que a parte não destoe na grande 'sinfonia'. E o cálculo resume-se a isto: o homem, que pensa ou julga pensar pela sua cabeça tem de estar sempre errado, porque lhe falta a ciência do Todo. O homem persegue os seus próprios fins, ou o que julga serem tais fins. Por isso Mefistófeles, que encarna esse orgulho satânico, próprio do supremo egoísta no trono usurpado da sua imaginação, aspira ao poder de vencer o que o transcende em absoluto.

Mas, como noutras lendas do irremediável 'inconseguimento' (para dizer como uma das nossas figuras políticas), Mefistófeles também sabe que está condenado, eternamente, a repetir o seu fracasso.

Voltando a Spinoza e, através dele, a Descartes, o Ser assegura a sua 'perfeição', não prescindindo das 'paixões', ou obstruindo-as, mas 'canalizando-as' (Freud diria sublimando-as) para a finalidade principal.

Conclusão: o Grande Sedutor não é o último a rir, porque é o melhor instrumento para levar a água ao moinho do Altíssimo.



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